Do nosso fado pensado,são os teus etéreos passosnas minhas mãos a bailarque me transmitem porfias.Dos altos montes que subosem temor ou desalento,vejo a fresca verdadeno gosto da jornada,domando, de prazer,o calvário da saudade.Não perco o sono, não sofro,porque do nosso destinojá terminou a partidae a chegada, se surgir, é o fim.Logo, só importa a caminhada.
Translater
segunda-feira, 30 de março de 2015
Só importa a caminhada [014]
quarta-feira, 25 de março de 2015
Como quem faz amor [013]
Não canto, nem escrevo,a palavra molhada no pranto,o poema pensando que morro.Ajusto, concebo,o canto a seduzir os meus versos,a forma como quem faz amor.Procuro, navego sorrisos,fortuna do ter,na vida pensando-me eterno.Conquisto, como a tocar,palmo a palmocada letra do teu corpo de mulher.
sexta-feira, 20 de março de 2015
Da partida deslembrado [012]
A minha pele impregnou-se de ti,da elegância da tua timidezà mercê das minhas mãos ambiciosas,vagarosas.Depressa abandonaste as tuas penase voaste, branda pena,para tão longe,para tão perto de mim, sem tormentas.Imortal foi o teu cheiro a maresiaa cada dobra do teu corpo renovado,rebuçado na saudade,da partida deslembrado.Porque de livre mágoa algemados,na pele das nossas asas cantamoso ditoso caminho à distância,inebriados, espelhados.
domingo, 15 de março de 2015
Ontem e hoje [011]
Ontem, colori horizontes, construísonhos exatos nos verdes e azuis casuaisque me adormeceramno castanho dos teus olhos.
Com os teus verdes milagrosos,libertei-me da cegueira de invernias,vi-te nas mimosas do Maio floridodo Monte de Santa Luzia.Mergulhei, abatido,nos tons de azul do rio Lethes,sem me esquecer de nadar enverdejadopara a outra margem de ti.Para lá do penedo ladrão,ao pôr-do-sol, derreti o chocolatedas nuvens sobre o teu mar.Hoje, vou misturar as tuas cores,obter as tonalidades precisas para te pintarnos tons vermelhosda nossa eterna e suave revolta de amor.Vou lembrar-me de ti na outra margemrodeada de mimosas,ofuscar a musa nas águas do rioe afogar a sereia nas profundezas do mar,para te ter, consumada.
quinta-feira, 12 de março de 2015
Trago em mim [010]
Trago em mim,De ti por todo o lado,As mulheres que nunca tive.És porcelana a palpitarMolhada em vinho inabalávelQue se alastra no meu rosto.Trazes em ti,De mim em toda a parte,Homens vários que sou e jamais dei.Sou embriagado na verdadeComo quem ceifa searas com um gestoQue junto ao chão dos nossos eus.Tudo somado,À vela dos arranjosE das mil combinações realizáveis,De ti em mim e vice-versa traduzidos,Da nossa gesta irrepetívelDe vinhos e searas, somos nós.
terça-feira, 10 de março de 2015
Sem horas [009]
Reconhecer-te-eiEntre todos os pássaros nos ninhos do bosquePara além da chuvaE do tempo enamorado de mudançasBeijar-te-eiComo sempreTal como no primeiro minutoDo nosso tempo acorrentado e sem horas
segunda-feira, 2 de março de 2015
Segredos de cozinha [008]
Parte por parte, despiu-o numa meiguice febril,Temperou-o ao seu sabor:Pimenta, alho e cebola, sal, limão e Porto velho.Na travessa, pôs-lhe salsa, rosmaninho atrás da orelha,Mostrou-lhe o forno ardente, lume nos olhos, tições,A queimar de tão acesos.Na espera, de gestos prontos, adoçou unhas nervosasDo frio abismo, sem fundo, onde esfriara lembranças,Gazela triste, salgada,Numa vigília sem estrelas de água-ardente de afetos.No tempo certo, no preceito de toalha sem migalhas,Branca e posta sem urgência de partidaDaquele caldo de amor, sem vacilar um talher,Ela apostara sem medo todo o saber da cozinha.
Subscrever:
Mensagens (Atom)